de todas as feras que podem te matar, o amor é a que mais me dá medo.
o amor é como um verme que te come por dentro, te faz pensar coisas erradas, come toda a sua sanidade e ainda faz seu coração ficar fraco.
mas você gosta
você gosta daquele verme, gosta do que ele faz com você
é uma dualidade.
enquanto você odeia se sentir assim, você adora se sentir assim
você vê mais claramente tudo, menos o que você devia ver claramente.
você se cerca de certezas e incertezas e as coloca para brigar em um gramado verde e cheio de flores.
você é o ferido no meio dessa briga infernal.
mas você gosta
não é racional
você apenas gosta
adora aquele verme comendo o seu interior, enquanto por fora você ri, você finge que está bem.
adora as pequenas bestas brigando no jardim, comendo as flores, fodendo o gramado
você adora
você acha que nasceu para isso.
você pensa que é um esporte para dois, que duas pessoas podem gostar dessa insanidade
mas esse é um esporte solitário.
você nunca vai ter certeza se mais alguém gosta desse esporte
se isso é tudo o que sentem
se existem vermes comedores de razão dentro de outras pessoas
se existem mais pequenas bestas fodendo mais jardins por aí.
é sempre um esporte solitário.
você com você mesmo, sempre
sem certezas
mesmo com confirmações.
isso te faz uma pessoa melhor
mas não existe razão para isso.
não faz o menor sentido.
um jogo violento, jogado sozinho, com espectadores que podem gostar do mesmo jogo que você
que podem gostar de jogos totalmente diferentes
ou que podem simplesmente não gostar de jogo nenhum
a incerteza de saber que você nunca vai saber de tudo
sobre ninguém
sobre o jogo.
e você ainda ama isso.
você alimenta o verme todo dia, na esperança de que ele pare de querer mais de você
o verme nunca para
você sempre o alimenta, cada dia mais
sempre aumentando sua fome
comendo cada vez mais da sua razão
criando cada vez mais pequenas bestas fodedoras de jardins
sem razão
sem certezas
nenhuma resposta concreta
e você ainda ama tudo isso.
de todas as feras que podem matar você
vagarosamente
o amor é a fera mais prazerosa de se criar.